Zé Tampinha

Visita à cidade natal

Após muitos anos eu estive de volta à minha cidade natal, passei por lá para fazer uma prova de concurso público. Além do fato de eu ter nascido lá, é importante dizer que lá estão 90% dos meus parentes – e isso não é algo bom, na verdade.

Mais da metade dessa parentaiada toda eu não tenho vontade de ver, portanto, não falei para ninguém que estava a caminho. No aeroporto da cidade que moro atualmente, aguardando o voo, conversei com uma prima muito querida e ela e o marido dela foram me buscar muitas horas depois lá no aeroporto da minha cidade natal. Enfim, nos dias em que estive por lá eu acabei visitando alguns poucos parentes e isso foi bacana.

Mas o mais legal mesmo foi caminhar pelas ruas que eu corria na minha infância, rever os nisseis/sanseis/yonseis por todos os lados (é incrível como as japonesas conseguem ser lindas e extremamente meigas), comer a comida com o tempero que eu gosto (onde eu moro, no Nordeste, tudo é feito com coentro, putz!) e, o melhor de tudo, andar na feira de rua mais tradicional da cidade.

Nesse dia da feira de rua eu me acabei na comida: manju e mochi (docinhos japoneses), pastel de feira, espetinhos e caldo de cana. Para a hospedagem1, levei uma deliciosa rosca caseira de creme com goiabada e muitos manjus (estes eu congelei e os levei de volta para casa – os manjus viajaram mais de 2.000 km!). Algo estranho ocorreu comigo enquanto eu caminhava pela feira: eu me emocionei... chorei disfarçadamente, rsrs. Eu não esperava que fosse me emocionar ao retornar à cidade natal.

Algo que me chamou a atenção foi o atendimento; é incrível como as pessoas de São Paulo (estado) sabem atender muito bem – morando há tanto tempo em um estado onde as pessoas sempre me olham com cara de raiva e atendem como quem faz uma obrigação, foi muito gostoso voltar a ser cliente-bem-recepcionado.

Nem tudo são flores...

...A minha cidade natal é localizada no interior de São Paulo e lá sempre foi uma região muito rica. Na verdade, eu me expressei mal: já foi muito rica (não é mais), a agropecuária era muito forte por lá – hoje está vivendo praticamente do comércio mesmo. Enfim, esse histórico de riqueza na região fez do povo da minha terra natal um povo extremamente arrogante e nariz empinado – então, sem surpresas, vi muitos (MUITOS) playboys e patricinhas desfilando pela cidade com seus carrões e roupas de grife. Maioria sustentada pelas gordas heranças das famílias tradicionais... Bando de abestados!

Fiquei poucos dias, mas tempo o suficiente para ter uma estranha sensação de que, surpreendentemente, eu ainda me sinto em casa por lá, apesar do povo metido e dos parentes que eu não gosto. A cidade é limpa e organizada – e os nisseis/sanseis/yonseis tornam tudo mais agradável. É sério, é incrível como a cultura japonesa consegue tornar tudo mais bonito, limpo e organizado.

Eu voltaria a morar por lá... Voltaria, do verbo “não-fui-bem-na-prova-então-eu-não-vou-voltar-a-morar-lá”. De verdade, é uma pena que eu não tenha sido aprovado neste concurso público, seria uma excelente oportunidade de eu me reconectar com minhas raízes/origens.

Retornei para casa com uma gostosa sensação de nostalgia.

zetampinha@tuta.io

  1. fiquei hospedado na casa da minha batchan.

#Miscelânea