Zé Tampinha

Como lidar com pessoas inseguras e ciumentas (relacionamento)?

Adianto, desde já, que este texto não apresenta respostas para a indagação do título; eu realmente não sei como lidar com isso.

Por ser extremamente racional e não sentir ciúme, confesso que tenho muita dificuldade em compreender esse fenômeno: o tal do ciúme. Parece que as pessoas, ao se encontrarem sob o efeito do ciúme, perdem um pouco a noção da realidade e passam a criar mil fantasias e teorias.

Algum pensador, que agora eu não me recordo o nome, já disse uma vez algo do tipo: a fantasia é mil vezes mais forte do que a realidade. Associando os conceitos, chego à conclusão de que as fantasias criadas na cabeça de uma pessoa enciumada são devastadoras - para ela e para o relacionamento dela.

Síndrome de Otelo

Pesquisando sobre o ciúme, descobri que a psicologia já se preocupou em analisar este tema a fundo, dando-lhe o nome de 'Síndrome de Otelo', em referência a uma obra1 de William Shakespeare que narra a história do protagonista Otelo, sujeito ciumento e violento.

Descobri, por exemplo, que as principais características de uma pessoa extremamente ciumenta são:

  1. Insegurança e baixa autoestima
  2. Presença de algum transtorno psicológico (exemplos: bipolaridade ou borderline)
  3. Comportamento controlador
  4. Desconfiança de tudo e todos
  5. Agressividade

Mourão Cavalcante (1997, p. 24)2 ensina o seguinte sobre o ciúme patológico:

... uma perturbação total, um transtorno afetivo grave. O ciumento sofre em seu amor: em sua confiança, em sua tranquilidade, em seu amor próprio, em seu espírito de dominação e em seu espírito de posse. O ciúme corrói-lhe o sentimento em sua base e destrói, com uma raiva furiosa, suas próprias raízes. Propicia a invasão da dúvida que perturba a alma, fazendo com que ame e odeie ao mesmo tempo, a pessoa objeto de sua afeição. O maior sofrimento do ciumento é a incerteza em que vive, pela impossibilidade de saber, com segurança, se o parceiro o engana ou não.

Por que estou falando disso?

Desde o início do meu relacionamento com a sra. Tampinha eu notei alguns traços de personalidade ciumenta. No início isso não me preocupava tanto, eu fui 'deixando acontecer'. Ocorre que agora, com sete meses de relacionamento, isso tem me preocupado cada vez mais.

Para ela, todo mundo que se aproxima de mim (principalmente mulheres) o faz tão somente por algum interesse sexual. Se eu troco duas conversas com alguém já é motivo para ela tentar puxar uma 'dê-érri' e explicar, com os mil fundamentos lógicos (na cabeça dela), os motivos de eu ter que 'tomar cuidado' com tal pessoa.

O último episódio aconteceu nessa semana; ela colocou na cabeça que uma concurseira com quem tenho conversado (possuo um perfil anônimo de estudos, um 'studygram') está com 'conversas estranhas' para o meu lado3. Como estávamos em público e eu não queria aporrinhamento na frente dos outros, não dei muito ouvidos. Posteriormente, fui reler todas as mensagens trocadas com a tal concurseira e, pasmem, zero - ZERO conversas estranhas ou alguma indireta. Apenas - e tão somente - conversas banais sobre concursos públicos e as dificuldades dessa vida de concurseiro/a.

O pior é que tudo isso vai me afetando de maneira que eu não gostaria que afetasse. Por exemplo: tenho muita vontade de conhecer pessoalmente algumas pessoas com quem converso no studygram - em uma viagem para fazer algum concurso em Brasília, por exemplo, a 'Meca dos concursos públicos' e onde muitos concurseiros se esbarram. Mas repenso isso toda vez que já começo imaginar a encheção de saco que será por parte da sra. Tampinha. Conversar com concurseiras aqui da região onde eu moro então?! Nem pensar! Isso seria origem para uns dois meses de aporrinhamento, no mínimo.

Aprofundando...

Lembra aqueles cinco tópicos que descobri sobre as pessoas com ciúme patológico? Pois bem, com exceção da agressividade, a sra. Tampinha possui quase tudo.

Vive insegura com o próprio corpo, o próprio cabelo e a própria aparência. Ela possui lindas sardas no rosto e em todo o corpo, mas, é claro, para ela isso é motivo para se sentir 'esquisita e feia'. Muda de humor muito rapidamente; uma hora está rindo alegremente e, dez minutos depois, está chorado sem qualquer motivo aparente. Fica a toda hora tentando me controlar (para onde vou, com quem converso, fica pedindo para eu avisar dos horários etc.) e, é claro, desconfia até mesmo da minha sombra (se duvidar, até da própria sombra dela).

Isso tudo tem me causado um desconforto enorme! Já tentei conversar pessoalmente com ela - e sinto que ela até faz algum esforço para melhorar em alguns aspectos - mas é impossível mudar uma personalidade, não é mesmo? Com o tempo, meio que desisti de conversar isso com ela e só vou observando para ver até onde tudo isso vai.

Parece que eu sou o tempo todo um espectro dos ex-parceiros dela (até onde sei, todos a traíram - pelo menos é o que ela me conta). Carrego em minhas costas, injustamente, as consequências dos erros alheios. Sobre isso, encontrei uma citação interessante4:

O ciumento não perdoa e não confia. Se lhe faltam motivos no presente, busca-os no passado e até no imprevisível futuro, ainda que ilusórios, frutos de sua imaginação atormentada. (ROSA, 2005, p. 19).

Além disso, tenho uma teoria, embasada em pesquisas do IPMC, de que as pessoas que mais sentem ciúme são as que mais traem. E, adivinha só: meu primeiro beijo com a sra. Tampinha foi enquanto ela traía o ex dela. "Ele deve me trair também, então está tudo certo", estas foram as palavras dela quando a questionei à época5.

E agora?

São tantos 'sinais de alerta' (red flags) que eu certamente já teria caído fora há muito tempo. Mas é aquilo: eu me apaixonei. Então, eu faço o seguinte questionamento inicial deste texto: como lidar com pessoas inseguras e ciumentas em um relacionamento? Toda vez que tento conversar abertamente sobre isso, não dá muito certo; ela até muda um comportamento ali e acolá, mas a essência (personalidade) dela é imutável - e agora?


zetampinha@tuta.io

  1. Otelo, o Mouro de Veneza.

  2. Livro: O Ciúme Patológico.

  3. E como ela sabe disso? Simples, eu conto, numa boa, sobre as pessoas com quem converso na internet. Não tenho o que esconder.

  4. Livro "Mais amor, menos ciúme: 450 reflexões para amar mais e melhor".

  5. Qualquer homem já teria pulado fora aqui, afinal, quem trai um, trai dois. Mas eu sinceramente não dou a mínima para isso - penso, inclusive, que todo mundo deveria curtir com todo mundo - a monogamia é apenas uma ficção social.

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