Zé Tampinha

A vizinha estrábica

Moro em um condomínio residencial que possui uma dinâmica peculiar: a maioria dos moradores é de outra região do país. Eu, inclusive, me encaixo nessa curiosidade.

Pois bem, no início de 2023 eu estava na quadra poliesportiva do condomínio, sozinho e era mais ou menos umas 20h30 de uma sexta-feira; tentava queimar os toucinhos correndo com uma bola de basquete quicando de um lado para o outro da quadra, uma cena digna de pena. Em todo o caso, eu estava acostumado com isso: silêncio e solidão. A quadra fica em um local meio afastado do condomínio e, com a exceção dos refletores da própria quadra, não há muita luminosidade. Ambiente perfeito para uma sexta-feira de um cara antissocial como eu.

"Olha... tá de parabéns, viu?!"

Eu me assustei com uma voz vindo do além - olhei à minha volta e nada encontrei.

"Aqui!"

Olhei para a lateral da quadra e lá estava ela: a vizinha.


Uma pequena descrição da vizinha: estrábica, baixinha, cabelo curto, corpo incrivelmente bem cuidado (ciclista amadora) e um sorriso largo - largo até demais, pois lhe sobressaíam as gengivas aparentes. No meu SPN (Sistema Pessoal de Notas), a vizinha era nota 4/10, mas como possuía um corpo bonito e era toda empinadinha, 7/10. Enfim, era mais bonita indo do que vindo.


Eu fiquei desconcertado quando a vi - "há quanto tempo ela está ali?", pensei imediatamente. "Ah, oi, boa noite...", falei meio desorientado.

"BahNoite, moço!!! Eu disse que você está de parabéns! Eu moro ali naquela casa (apontou para a primeira casa mais próxima da quadra) e sempre tô vendo você treinar aqui de noite, há muitos meses, né? Você emagreceu muito! Parabéns!!"

Agradeci e, sentindo-me estranhamente vigiado e ao mesmo tempo atraído pelas pernas dela (a vizinha sempre usou shorts bem curtos), terminei a convidando para jogar basquete comigo.

A conversa fluiu bem naquela noite de sexta-feira. Descobri que, apesar de morar no Nordeste, ela também era paulista; que ela amava Campinas; que ela estava solteira há anos; que sofríamos os mesmos preconceitos das pessoas do atual estado onde morávamos e assim por diante. Havia muito em comum - quem diria! Naquela noite, também descobri que o beijo dela, de acordo com o SPN, era 7/10. Nada excepcional.

Daquela sexta em diante passamos a nos encontrar com frequência na quadra do condomínio, sempre nas noites de sexta ou sábado. Também tínhamos o comportamento antissocial em comum e ela também possuía o diagnóstico de autismo.

Após algumas semanas, sem muita pressa para a coisa acontecer, acabei por convidá-la a passar uma tarde em minha casa: piscina e sol ardente. Inevitavelmente, aconteceu.

Aí a coisa ficou mais interessante - a vizinha estrábica e introvertida, quem diria, gostava da coisa! Pelo SPN, 9/10!!!

Lembro que naquela noite eu fui dormir pensando: "tô feito! Uma vizinha gostosa que transa bem!!!".

E assim fomos mantendo encontros esporádicos e o sexo começou a acontecer em todos os locais: perto da quadra, nas árvores afastadas do condomínio, em casa, no carro (odeio) e até mesmo em alguns AirBnbs que eventualmente alugávamos na região nobre da cidade (apartamentos com lindas vistas).

Sem muito compromisso, sem mãozinhas dadas no shopping, sem sentimentos de posse e sem fotinhas nas redes sociais para mostrar para a sociedade aquilo que a sociedade não quer ver. Tudo com muito sexo 9/10 e um beijo morno 7/10. Ok, éramos vizinhos de condomínio e isso nos bastava. Certo?

Errado!

Num certo dia, aproximadamente três meses após aquela noite de sexta-feira na quadra do condomínio, voltávamos do motel e, repentinamente, a vizinha solta uma bomba dentro do carro:

"você sabe que estamos namorando, né?"

"Oi?! Namorando? Não mesmo! Inclusive conversamos sobre isso e fui bem transparente: não quero relacionamento. Você mesmo concordou e até brincou, agarrando meu corpo, dizendo que só queria um sexo fácil - nem vem ein!"

A vizinha, sempre sorridente com as gengivas aparentes, fechou a cara. Ao chegarmos no condomínio, desceu do carro e saiu batendo a porta. BATENDO A PORTA - DO MEEUU CARRO! Tive um relacionamento de dez anos e minha ex nunca havia feito aquilo, quem a vizinha pensava que era para bater a porta do meu carro?!

Uma semana de silêncio. Nenhuma mensagem de ambos os lados. Não fui treinar na quadra, não queria ter o azar de encontrá-la por lá. Numa noite de sábado, recebo a mensagem: "estou com saudade, posso me desculpar pessoalmente?". Não respondi. Quase duas horas depois, uma nova mensagem: uma foto dela, nua e ajoelhada com a boca aberta - juntamente com a foto, a mensagem: "me usa?". Fia-da-mãe!!! - ela conhecia o meu ponto fraco!!! Trinta minutos depois já estávamos entrelaçando os nossos corpos.

E assim voltamos a nos encontrar, mas com aquela coisa mal resolvida e não conversada. Com o passar das semanas, comecei a me afastar. Até o sexo, que era excelente, caiu para 7/10. Sei lá, não era mais a mesma coisa... naturalmente eu fui me afastando até chegar ao ponto de tudo acabar. Aí o meu inferno começou!

Passei a receber mensagens com tom ameaçador, algo no tipo; "tô aqui doida para te dar e você não vem? Frouxo! Já foi melhor. Você vai ver só!". Áudios dela gemendo e dizendo que estava se tocando enquanto pensava em mim e até mesmo foto da minha casa em horários completamente aleatórios. Numa dessas fotos, inclusive, ela tirou uma selfie mostrando os seios (exibicionista) e com a minha casa atrás. Não me recordo exatamente do texto que acompanhou essa foto.

Eu já não tinha mais paz. Já havia desistido de ir à quadra, pois toda vez que eu ia treinar sozinho, ela aparecia. Conversávamos normalmente (na medida da normalidade possível), mas logo ela começava a provocar e dizia que estava molhada, que queria e coisa e tal.

Sinceramente, quero socar a cara do filhote de corno que um dia imaginou que seria legal se envolver com uma vizinha ninfomaníaca!

Cogitei registrar um boletim de ocorrência (de verdade!). Inclusive informei isso à vizinha quando ela apareceu tocando a campainha da minha casa às 23h30. Ou ela parava de me perseguir ou eu faria um boletim de ocorrência e daria prosseguimento na justiça.

"Adoro quando você fica bravo, é assim que eu gosto de você, bravo e mandão!"

Bloqueada em todos os meios digitais, ela passou a criar fakes e mandar mensagens de números aleatórios. Nisso os meses foram passando e eu comecei a sair com uma outra mulher, a jovem-maluquinha. Fiz questão de colocar umas fotos nas redes sociais de nós dois juntos e, após um tempo, a vizinha desistiu de mim. Pelo menos parou de enviar mensagens e de aparecer repentinamente na porta da minha casa.

No próximo post eu falarei sobre a jovem-maluquinha! Antecipo, desde já, que definitivamente não foi tão trágico quanto à vizinha estrábica, mas também não deu muito certo - ainda bem.

#Miscelânea