Zé Tampinha

A jovem-maluquinha

Após a terrível experiência com a vizinha estrábica, eu decidi passar um tempo sozinho. Não sei se por causa do emagrecimento radical que eu tive e consequentemente um aumento exponencial na libido ou se era apenas o diabinho assoprando no meu ouvido, mas em pouco tempo eu comecei a não me contentar mais com o cinco-contra-um – era hora de ‘caçar’!

Solteiro, livre, leve e solto, decidi procurar um grupo fetichista na minha região para voltar a explorar ‘as experiências’ do BDSM. O melhor lugar para isto? Internet! Encontrei um grupo interessante no Discord e outro ainda mais interessante no Telegram – em poucas semanas eu já estava participando, pessoalmente, de encontros fetichistas na região. Nada de sexo e putaria, como muitos podem imaginar, apenas adultos e muitos casais tomando cerveja/vinho e conversando sobre algo em comum: BDSM. Acho importante reforçar isso, pois quem é de fora deste meio sempre pensa que é tudo putaria e ‘liberou geral’ – não, não é.

OS EVENTOS

Eu me sentia um pouco deslocado nesses eventos, pois havia MUITOS casais – e eu solteirão perdido ali no meio. Em um desses encontros eu observei uma jovem bem retraída e parcialmente bonita, 6/10 pelo SPN. Enquanto todos falavam, ela só observava. A média da idade das pessoas presentes com certeza era 30+, afinal, é preciso ter experiência e maturidade para chegar ao ponto de participar desses eventos fetichistas. Já a jovem, aparentemente, possuía 18 ou 19 anos. Com certeza ela era maior de idade, pois comprovar a idade (documentação) era requisito obrigatório para fazer parte da comunidade, mas aparentava ser realmente muito nova, então eu chutava que ela tinha uns 18 ou 19 anos mesmo.

Para a minha surpresa, ela entrou na conversa no momento em que debatíamos sobre palmadas e os limites da dor, claro, tudo muito subjetivo. Ela demonstrou muita empolgação pelo assunto e falou das prévias experiências dela. Eu, confesso, me assustei com o fato dela ser tão nova e já ter experiências fetichistas. Em determinado momento, uma mulher em seus 40 anos, meio incomodada em não ser mais o centro das atenções masculinas, perguntou à jovem a idade dela – e todos se surpreenderam com a resposta: 24 anos. Loucura! “24 anos com rosto de 17 e corpo de 18, qual é o segredo?”, perguntou o marido da mulher-que-não-era-mais-o-centro-das-atenções-e-agora-estava-com-ciúmes-e-muita-raiva-do-marido. Todos riram, menos a coroa.

ABORDAGEM

Sabendo que ela já tinha seus 24 anos, passei a ter real interesse pela jovem; Deus me livre me envolver com uma ‘novinha’ de 18 ou 19 anos! Vinte e quatro primaveras já era algo aceitável para mim. No local, nada fiz. Posteriormente, enviei uma mensagem privada para ela no Telegram com a seguinte provocação: “não seja mais o centro das atenções, as coroas vão te matar!”. Eu não esperava uma resposta animadora, afinal, eu provavelmente era só mais um cara de meia-idade daquele grupo que estaria enviando mensagem privada para ela – a mulher mais nova da turma.

Felizmente, eu estava enganado. “Oi, moço do sorriso bonito”. Aquilo me quebrou! Eu não possuía foto sorrindo no Telegram – então lembrei que eu sorri em alguns momentos no último encontro. Nossa, ela havia reparado em mim...

Após algumas mensagens, ela resolveu me seguir no Instagram (à época eu ainda usava aquilo) e a coisa saiu da esfera ‘grupo secreto de fetichistas’ para conversas mais pessoais e ‘normais’. Passamos a conversar sobre a vida, trabalho, estudos, enfim, papo ‘baunilha’.

PRIMEIRO ENCONTRO – as palmadas

Ela não mora na cidade onde os encontros ocorriam, então ela tinha o hábito de alugar um AirBnb todas as vezes que iria ‘socializar entre os fetichistas’. Numa dessas, convidou-me para lhe fazer uma visita. Cheguei lá domingo de noite e fiquei bem frustrado ao saber que ela já havia tido contato com outro-Zé que havia ido para lá no sábado, um dia antes. Ou seja, a jovem-maluquinha estava fazendo rodízio de homens trouxas, foi assim que eu me senti. E como sei disso? Ela fez questão de mostrar as marcas roxas que o cara deixou nas nádegas dela (nunca havia visto alguém gostar tanto de apanhar na cama, sinceramente).

Desanimado e me sentindo só mais um, eu não tentei muita coisa. Apenas tomamos um bom vinho e eu utilizei a palmatória (que ela levou na mala) no lindo corpo branquinho dela. Aliás, aqui vai uma observação: se a beleza dela, com roupa, era 6/10, apenas com roupa íntima subiu para 8/10 – nada que a juventude, ainda sem sentir o efeito da gravidade, não possa melhorar, não é mesmo?

Outra decepção no primeiro encontro foi descobrir que a jovem-maluquinha era tão, mas tão maluquinha que adorava apanhar, mas odiava beijar. Sim, ela simplesmente não beijava – no máximo alguns selinhos. Caramba, que coisa frustrante! Nada de sexo, apenas toques, muitas palmadas e alguns selinhos – FRUSTRANTE!

SEGUNDO ENCONTRO – o sexo

Ela percebeu que eu fiquei bem ‘morgado’ com aquele primeiro encontro. Nos próximos dias eu fui sincero com ela e falei que eu me senti só mais um, que fiquei chateado de ter sido ‘mais um cara’ no rodízio do AirBnb dela. E fui mais sincero ainda ao falar que o meu negócio não era ficar só dando palmadas e cintadas por aí, eu queria sexo e beijo de verdade – como qualquer pessoa normal nesse mundo poderia querer.

Ao contrário do que eu imaginei, isso parece que a instigou. Curiosamente, as jovens mulheres não são acostumadas a receberem ‘nãos’ de homens mais velhos, quando isso acontece, elas passam a ter um real interesse. No mês seguinte ela alugou um AirBnb pela região e mandou mensagem: “estou indo, dessa vez somente para você. Quero fazer as coisas direito desta vez... vamos passar o fim de semana juntos?”.

Assim, tivemos nosso segundo encontro. Dessa vez, nada de frustração e muitas surpresas! Esse texto definitivamente não é um conto erótico, então eu vou poupar os leitores dos detalhes sórdidos e vou avançar para os finalmentes: após muitas cordas, amarrações, palmadas e cintadas, estávamos nós dois na cama, corpo entrelaçando com corpo e a coisa ia acontecendo...ia acontecendo... ia acontecendo... ia acontecendo... até que... MEU DEUS, ELA É VIRGEM?!?!?!?!?!

Os homens que já tiveram a sorte de ter o ‘primeiro contato’ com uma mulher virgem saberão que o que vou falar é verdade: é possível perceber – e como é! Ao perceber a situação, eu parei. Congelei. Pensei comigo: “como assim ela tem toda aquela experiência fetichista e, quando se trata de sexo propriamente dito, ela é virgem?! Ela já tem 24 anos!”. Eu não sei se eu estou ficando velho demais ou chato demais, mas eu considero esse primeiro sexo – para ambos os gêneros – algo muito, MUITO importante! Tão importante que, naquele momento, não fazia sentido para mim ela ter ‘me escolhido’. Sério, por que ela estava fazendo aquilo, a primeira vez para valer, com um cara meio desconhecido que esbarrou com ela num grupo fetichista da internet?!

Eu parei. Parei tudo, dei uns beijinhos em seu pescoço e fui parando aos poucos, mas parei. Ela percebeu – e ficou imóvel. Sentei na cama e falei: “precisamos conversar”. Vou poupar o leitor da próxima hora de conversa, mas basicamente ela disse que, sim, já teve experiências sexuais que envolviam palmadas e até mesmo sexo oral com outros homens, mas nunca havia tido os ‘finalmentes’ porque não se sentia confortável – e COMIGO ela se sentia confortável. Aquilo para mim foi demais, eu sentia que havia algo errado, sei lá, eu não queria ser o cara aleatório e mais velho que a deflora e depois some no mundo – a virgindade, para mim, é algo quase sagrado, tem que ser valorizada e esse ‘próximo passo’ tem que ser com alguém realmente especial! Eu não me sentia especial (e nem era mesmo).

Levantei e fui passar um café, era o que eu poderia fazer para sair daquela situação, já que era madrugada e eu também não seria escroto de simplesmente levantar e ir embora. Decidi então passar um café para nós dois para comermos com um bolo de chocolate que eu havia levado.

À mesa – e ambos sentados, nus, sobre toalhas forrando as cadeiras – continuamos a conversa. O café e o doce nos ajudaram a ficar mais sóbrios. De repente, ela levanta e se aproxima de mim (que corpo lindo ela tinha!), me beija – um beijo de verdade (como assim ela beija de língua? Não era só selinho? Aquilo me deixou muito confuso!) – e diz: “vamos pra cama? Vem... eu quero você.” – e começa a me puxar carinhosamente.

“Eu quero você”, essa frase ficou na minha cabeça.

Fomos para a cama e aconteceu. Algumas manchinhas de sangue no lençol e ela um pouco envergonhada – lá fora da janela o sol estava nascendo e, dentro do quarto, íamos para mais uma ‘rodada’. Passamos a manhã e a tarde de domingo na cama. Por exigência minha, deixamos as cordas e palmatórias de lado, ficamos nos sentindo e nos curtindo... o dia todo. Como era tudo a primeira vez dela por ali, eu fui o mais carinhoso possível. Ela, meio retraída, foi se soltando aos poucos.

Chegou a noite de domingo e estávamos famintos, pois passamos o dia à base de salgadinhos, café, sexo e bolo de chocolate do dia anterior. Pedi uma pizza grande e fechamos o fim de semana assistindo TV na sala do pequeno apartamento de AirBnb.

TERCEIRO ENCONTRO – o fim

A vida seguiu e os compromissos vieram – estávamos há duas semanas do nosso último e incrível encontro, decidi então dar um passo adiante e mostrar para ela que eu estava lá para algo sério. Ao chegar o fim de semana, peguei o meu carro, enchi o tanque de gasolina e fui até à cidade dela.

Esse terceiro encontro foi o mais ‘normal’ de todos: sem sexo, sem beijos (ela voltou a aceitar somente selinhos), apenas passeio pela cidade dela (turística) de mãos dadas e muitas fotos juntos. Em determinado momento, eu decidi dar o próximo passo e mostrar para ela que, sim, aquele cara que tirou a virgindade dela estava lá e queria algo sério com ela, então eu a pedi em namoro. De verdade, considerando todo o contexto, eu jurava que ela aceitaria! Hahaha, como eu fui trouxa!

“Namorar? Ãh... Acho que você entendeu errado...é que eu não quero namorar, sabe... sou jovem... tenho muito ainda pra viver...” – não me lembro bem das palavras dela depois desse trágico início da exposição sobre os motivos dela não querer namorar. Eu estava me sentindo um idiota. Um idiota de meia-idade. O que eu tinha na cabeça para pedir uma jovem de quase dez anos mais nova em namoro?! Enquanto ela falava, eu já não absorvia mais nada, apenas pensava: ‘vá embora, cara, você caiu numa cilada, saia dessa situação.’ E foi o que fiz. Claro, não imediatamente, acabamos passando o restante do dia juntos (num clima meio morto) e depois voltei para a minha cidade.

ADEUS

Ela havia colocado as cartas na mesa: não queria relacionamento sério. Ok, então ela seria tratada como só mais uma. E assim o fiz. Isso a deixou extremamente incomodada ao ponto dela me ligar (ela odiava ligações e só conversava por mensagens, coisas da nova geração) e ter uma séria conversa sobre o motivo de eu ter ‘mudado com ela’.

Fui sincero: mudei o meu comportamento com ela porque ela não queria nada sério. Eu já estava 30+, não tinha mais idade para ficar de enroscos por aí. Se ela quisesse, até poderia vim nos próximos dias (Réveillon) e iríamos curtir bastante, mas que ela ocuparia em minha vida o “status” que uma pessoa que não quer relacionamento sério ocupa, nada mais que isso.

Não tenho paciência para jogos emocionais e, sinceramente, muitas vezes eu sequer consigo identificar estes jogos. Sou extremamente racional: se quer algo sério, vamos ter algo sério. Se não quer algo sério, vamos curtir sem ter algo sério – simples assim. Ocorre que ela esperava de mim um comportamento de ‘namoradinho’ enquanto me tratava como um qualquer, afinal, “ela é jovem e ainda tem muito o que viver” (palavras dela) – zero paciência para isso.

Nas próximas semanas eu não mandei mais mensagens para ela – chegou o Réveillon, passei com minha família – e poucos dias depois eu estava na cama com outra pessoa, a Tampinha; mulher séria, decidida e da minha faixa etária! Daí em diante é o que eu já falei em outro post, eu me apaixonei pela Tampinha e agora estamos namorando.

Removi a jovem-maluquinha dos contatos e a vida seguiu em frente.

#Miscelânea